Ordem do Dia 09/06/25
Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia

Recente reportagem da The Economist, sobre a América Latina, não traz novidades. Apenas confirma o que nós, brasileiros, vivemos desde sempre: a desigualdade social é característica estrutural da nossa sociedade. Assim como a concentração de renda.
E parecem uma espécie de maldição, sem possibilidade de remissão. Grave. A citada matéria, por outro lado (embora não mencione), confirmaria estudo do economista francês, Thomas Piketty, de formação marxista, que desmascarou os programas de distribuição de renda petistas, tipo bolsa família: mal arranharam o verniz da desigualdade.
Mesmo durante o "boom" das comodities e da expansão do crédito. Estudo de um pesquisador florentino, citado na matéria em tela, dá uma pista para se entender o problema: desigualdade não seria uma maldição, mas sobretudo uma herança.
Em grande parte, os excluídos são filhos e netos de outros excluídos. O que perpetua o ciclo.
A lógica, por seu turno, confirma: se o problema é estrutural, a solução também seria. Bolsa família, quotas, etc, não resolvem.
E ainda sugere que a condição racial no Brasil, e o preconceito decorrente, seria mais herança econômica que estética. O fato dos antigos escravos serem negros seria secundário, acessório. Não seria determinante.
O que manteria a exclusão seria, muito mais, a condição profundamente desigual da escravidão. E sua "herança maldita".
Jonh Kennety Galbraith, quando tratou da tecnoestrutura, um de seus mais notáveis trabalhos, comentou o fracasso de alguns programas ingleses de combate à desigualdade, na Índia. Os ingleses deixaram a Índia. A desigualdade, não.
Mas qual medida estrutural romperia o ciclo da desigualdade, no Brasil? Seriam aquelas que ferem de morte as bases da exclusão.
Primeiramente, teríamos que acabar com os privilégios. A começar dos super-salários do serviço público, especialmente do Poder Judiciário e da alta burocracia estatal - e seus assemelhados.
Em seguida, realizar a receita que conhecemos, mas recusamos: promover a educação e a cultura, no longo prazo. Com ênfase em princípios e valores éticos.
Finalmente, acabar com a tal da "meia boca". Precisamos de serviço completo. Podemos manter nossa alegria (infelizmente, cada vez menor) e o jeitinho, mas apenas no Carnaval, nos botecos e nos improvisos da vida.
Ciência, educação e cultura exigem seriedade. E boa remuneração para as carreiras que as representam.
Qualquer coisa que fuja disso nos manterá onde estamos - e sempre estivemos.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com
Qual é a sua reação?






