Subnotas 17/05/25

POEMA-PIADA
Eu gostei muito de escrever haicais satíricos e tive reações positivas entre minha meia dúzia, se muito, de leitores. Lá pelos idos de 2018 eu li um excelente livro compilado pelo comediante Gregório Duvivier. Chamado Poema-Piada, Breve Antologia de Poesia Engraçada, a obra foi publicada pela Ubu Editora e já está esgotada. Sem me inspirar em nada específico nela, mas no seu espírito, nesta coluna farei algumas poesias de verso livre, sem me ater em nenhum formato.

DITADO FURADO
Dormiu o camarão
A onda levou
Foi parar num lugar do qual nada sabia
Apanhou bastante na arrebentação 
Pouco importa o cochilo
A féria compensa 

INIMIGOS, PERO NO MUCHO
O xingamento é explícito 
O acordo é tácito
O ganho, implícito
Mais do que isso não cito

STALKERS
Quem me viu
Não disfaça
As visualizações entregam
O padrão do patrão

CITAÇÃO
Eles passarinho
Eu passarão
Ops, não era isso
Mas não erra isso

O LITERATO
O ex-vereador proibicionista 
Queria proibir a palavra "gênero"
A rejeição abateu o projeto
Escreveu um livro de memórias
Ao lançá-lo sapecaram-lhe
"Mas de que gênero é o livro"? 

PASSADO
As árvores cortadas
Apoiadas nos carrinhos de lanche
Em frente à Casa Amarela
Ainda podem observar
As charretes a passar

ENTERRO NA CPI
Pôs os pés
Pus as pás 

CALMA BET 
O Tigrinho
Não joga dados

O SOBRINHO
Não teve ventura
O aventureiro
Que aventou 
Em vão vencer

UIVO
Eu vi as melhores mentes da minha geração 
Arrastando-se nas ruas 
À busca de uma aposentadoria que não virá
Esmagados por algoritmos
Invisibilidade real induzida pelo virtual
Allen Ginsberg imaginaria 
Se fosse agraciado com mais alguns anos
Sorte dele escapar dessa desdita 
A anomia foi normalizada
Esse não era para ser engraçado 

* Daniel Souza Luz é jornalista, escritor e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com