Outubro Rosa: do diagnóstico precoce ao laço que salva vidas
Outubro Rosa é mais do que uma campanha de conscientização: é um chamado à vida, ao cuidado integral e à solidariedade.
O movimento nasceu para alertar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, mas, ao longo dos anos, revelou que o impacto dessa doença ultrapassa o corpo físico e alcança de maneira profunda a saúde emocional e mental das mulheres. Ser diagnosticada com câncer de mama é receber uma notícia que muda a vida por completo, trazendo à tona sentimentos de medo, ansiedade, insegurança e, muitas vezes, solidão.
A cada exame, a cada procedimento e a cada efeito colateral do tratamento, surgem desafios que fragilizam não apenas o organismo, mas também a autoestima, a identidade e os vínculos afetivos.
No Brasil, milhares de mulheres recebem esse diagnóstico todos os anos e, em Minas Gerais, a realidade não é diferente.
Muitas descobrem a doença em estágios já avançados, o que amplia o sofrimento e a angústia diante das incertezas.
Entre cirurgias, quimioterapia, radioterapia e alterações físicas que transformam a relação com o próprio corpo, as mulheres se deparam com a necessidade urgente de apoio psicológico.
O câncer de mama não atinge apenas o tecido mamário: ele toca diretamente a vida emocional, interferindo nas relações familiares, sociais e profissionais.
A vulnerabilidade cresce ainda mais quando se soma às dificuldades socioeconômicas, ao racismo estrutural, ao machismo e à falta de informação, fatores que podem atrasar o diagnóstico e dificultar o acesso ao tratamento.
Nesse cenário, o suporte em saúde mental precisa ser entendido como parte essencial do cuidado oncológico.
Ansiedade, depressão e crises emocionais não são consequências secundárias: são realidades que exigem atenção especializada, escuta qualificada e acompanhamento contínuo.
Uma mulher em tratamento precisa mais do que medicamentos e cirurgias; ela precisa sentir-se amparada, reconhecida em suas dores e fortalecida em sua capacidade de enfrentar cada etapa do processo.
Quando há acolhimento psicológico, grupos de apoio e serviços humanizados, o tratamento se torna menos doloroso e mais esperançoso.
O poder público tem papel fundamental nessa caminhada. É urgente garantir não apenas exames e diagnósticos ágeis, mas também criar uma rede de apoio que contemple a integralidade da saúde da mulher.
No Sul de Minas Gerais, o caminho começa pelas Unidades Básicas de Saúde, que devem orientar, encaminhar e acolher.
Mas é preciso ir além: os serviços de mastologia e oncologia precisam estar articulados com equipes de psicologia e assistência social, de modo a oferecer um cuidado completo, que considere tanto as necessidades físicas quanto as emocionais.
Hospitais de referência, como o Hospital Alberto Cavalcanti, em Belo Horizonte, exercem papel importante, mas a distância geográfica ainda é uma barreira para muitas mulheres do interior.
Por isso, iniciativas como programas itinerantes de saúde e a ampliação de atendimentos regionais são fundamentais para reduzir desigualdades.
O Outubro Rosa nos lembra, ano após ano, que o laço não pode ser apenas símbolo: ele precisa se transformar em ação.
A luta contra o câncer de mama exige políticas públicas consistentes, investimento em prevenção e, acima de tudo, respeito à dignidade das mulheres.
Quando o cuidado se estende também à saúde mental, a vida floresce mesmo em meio às adversidades, e cada diagnóstico deixa de ser sentença para se tornar um convite à esperança.
* Cristiane Fernandes é doutoranda em Psicologia, psicóloga clínica, pedagoga e professora de música
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