O que foi a literatura marginal nos anos 1970
Hugo Pontes comenta sobre o movimento literário ligado à chamada Geração Mimeógrafo, também conhecida como poesia marginal

A literatura marginal dos anos 1970 no Brasil foi um movimento literário ligado à chamada Geração Mimeógrafo, também conhecida como poesia marginal.
Surgiu em um contexto de forte repressão política durante a ditadura militar (1964-1985), quando muitos artistas e escritores foram censurados, suas obras impedidas de circular em bibliotecas e livrarias, e sobretudo perseguidos.
O que era e se fixou no contexto cultural brasileiro a Literatura Marginal.
Autopublicação e distribuição alternativa - Sem espaço nas editoras oficiais e na grande mídia, os autores usavam o mimeógrafo que era um equipamento de cópia manual a tinta ou a álcool para produzir seus próprios livros e panfletos, distribuindo-os de mão em mão, em bares, universidades, eventos culturais e enviados pelos Correios como forma de divulgar para outras cidades do Brasil e, mesmo, do exterior.
Temas contraculturais e cotidianos - A literatura marginal abordava o cotidiano urbano, a crítica social, os dilemas da juventude, sexualidade, drogas, a busca pela liberdade e a contestação ao sistema. Também havia um forte tom de ironia e provocação.
Estilo informal e direto - A linguagem era mais coloquial, aproximando-se da oralidade, rompendo com o formalismo acadêmico e valorizando a expressão espontânea.
Ligação com outras artes - Muitos escritores também eram músicos, artistas visuais ou performers. Havia uma forte ligação com o movimento tropicalista e com a música popular brasileira da época.
Os poetas que se destacaram nesse período foram Antonio Carlos de Brito (mais conhecido como Cacaso); Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte), Ana Cristina Cesar, todos do Rio de Janeiro; Paulo Leminski, de Curitiba; Waly Salomão, da Bahia; Francisco Alvim, de Minas Gerais; Glauco Mattoso, de São Paulo e Nicolas Behr, de Brasília.
Essa literatura era chamada de "marginal" não só porque estava à margem do mercado editorial tradicional, mas também porque refletia uma atitude de resistência e contestação política e cultural.
Também, nessa época surge também o Poema/Processo sob a liderança de Wlademir Dias-Pino e outros poetas que rompiam com o Concretismo e iniciavam a fase do Poema Visual e a Arte Postal.
Um poema de Paulo Leminsky
Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
* Hugo Pontes é professor, poeta e jornalista. E-mail: hugopontes@pocos-net.com.br
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