Ordem do Dia 11/02/25
Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia.

Hugo Mota, o novo presidente da Câmara dos Deputados, disse que a "quebradeira" do 8 de janeiro não foi "golpe". O que teria sido? Isso ele não explica.
Certamente há uma banalização dessa expressão. A começar pelos petistas, que assim definiram o impeachment de Dilma: golpe. O do Collor não teria sido.
Já o movimento de 1964, sim. Assim como a tentativa do movimento bolsonarista. Não haveria critério.
O mesmo se aplica a Mota, bolsonaristas "et caterva". Sem noção.
A tradição liberal-democrática foi responsável pela formulação do conceito de "golpe de Estado". A começar de Locke e Montesquieu.
Mais tarde, passou a ser referência dos defensores do Estado de Direito. Conjunto de valores e conceitos desprezados por petistas e bolsonaristas. O que mostra a ignorância, ou má-fé, de ambos os lados.
Assim como 1964, o movimento bolsonarista não se resumiu a um único ator, a um único viés institucional ou a um procedimento simples. Se desdobrou em várias ações, com vários atores.
O ataque sistemático, e internacional, às urnas eletrônicas seria um dos capítulos. Sem quaisquer provas. "Questão de fé...".
O desvio de joias, por outro lado, configurando peculato, não foi golpista. Embora tenha tido a participação de militares e outros. Estaria vinculado à tradição "rachadista" da família Bolsonaro. Queiroz que o diga.
A diferença, entre 1964 e o recente golpe "Tabajara", foi na formulação e no desfecho. Em 1964, as Forças Armadas ditaram o enredo e praticaram o último ato.
No movimento bolsonarista, não estiveram presentes em nenhum desses momentos, ainda que tivessem sido insistentemente convidadas.
Tentaram cooptar militares com milhares de cargos públicos, salários dobrados e sinecuras. Chegaram a acampar, por meses, diante das portas dos quartéis, implorando adesão.
Os quartéis permanecem silentes. Se recusaram a "tocar pandeiro prá louco sambar". E assim morreu o golpe. Mota, enfim, teria razão: não foi golpe. Não passou de uma tentativa mal ajambrada.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com
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