Ordem do Dia 04/02/25
Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia.

O tema a seguir seria um campo minado. Mas não há como fugir dessa discussão. Está na ordem do dia.
O "barraco" formado por Karla Sofia Gascón, a atriz trans que disputa o Oscar com Fernanda Torres, extrapolou as fofocas das redes sociais.
Se encontra disseminado em jornais de todo o mundo. Com uma tomada de posição surpreendente da assistência mexicana: expectadores do México têm abandonado as exibições de "Emília Pérez" e solicitado o dinheiro de volta.
Os mexicanos não reconhecem sua cultura na trama desse filme. Tampouco, muitos deles não aceitam os estereótipos contidos na película.
Entre eles, o personagem trans. Não representaria as mulheres mexicanas. O México, assim como o resto do mundo, possui uma substancial parcela de conservadores. Que têm direito à voz, assim como os demais.
Tudo começou com o ataque de internautas brasileiros à "Emília Pérez". Nacionalizaram a sexualidade de Fernanda Torres.
"Mulher original". Gascón seria uma mulher "fake": "con perú". Viva a perereca nacional! O patriotismo brasileiro, um misto de irreverência e ódio, incomodou a "mujer con perú".
Os internautas brasileiros fizeram o mesmo com o jornal "Le Monde", cujo crítico de cinema ousou criticar "Ainda estou aqui", defendendo o diretor francês, concorrente do diretor brasileiro.
O diretor francês, por sua vez, declarou que não deu muita importância à cultura mexicana, afirmando que o espanhol é um idioma falado em países pobres e modestos, em desenvolvimento.
Próprio de pobres migrantes. Eis a arrogância francesa em ação. Não seria demais lembrar que os franceses tentaram dominar o México e foram expulsos. Pelos mesmos "pobres migrantes".
A reação foi uma tradicional patriotada, misturada com preconceito identitário. Salada profana.
O fato seria um só: embora Fernanda Torres, e equipe, tenham permanecido em "silêncio obsequioso", críticos têm dito que o barraco prejudica ambos os filmes.
"Coisa de latino besta". Viva a fleuma anglo-saxônica. Mais essa. As redes sociais interferem em tudo, mundo afora.
A disputa zoológica entre "perereca" e "perú", ou entre a "haute couture" francesa e a pobreza mexicana, deveria ser vista como piada de mau gosto. Mas a patrulha não deixa. Coisa chata.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com
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