Mineradora decide usar rede aérea para carregar caminhões a bateria
A mineradora sueca Boliden implantou a primeira linha de extração de minério do mundo baseada em caminhões elétricos e em um sistema de carregamento contínuo de baterias, no que pode ser um novo marco da descarbonização da mineração. Com 800 metros de extensão e inclinação a 13 por cento, a linha foi implantada na mina subterrânea multimetais de Kristineberg, no norte da Suécia.
Operada ainda em caráter experimental, a linha conta com um caminhão a bateria MT42 SG da Epiroc e um sistema de trolley (rede elétrica aérea) projetado pela empresa de automação ABB. A linha é a primeira do mundo em que uma rede de trolley é usada para fazer o carregamento contínuo de baterias de caminhões, num conceito pensado para evitar paradas para recargas, expor trabalhadores a monóxido de carbono, a altos níveis de ruído e, principalmente, eliminar emissões da queima de diesel.
“A implantação é um marco porque o carregamento contínuo evita parar equipamentos para recarga, fazendo a operação mais produtiva. Também evita a aquisição de equipamento adicional para mover minério enquanto parte da frota está recarregando e abre caminho para o uso do trolley como solução de recarga de pesados elétricos, acima de 200 toneladas, quando estiverem disponíveis para operações de maior porte, inclusive a céu aberto”, diz Fausto Almeida, diretor de negócios em mineração da ABB para América Latina.
O Epiroc MT42 SG usado em Kristineberg foi equipado com um sistema de carregamento contínuo de bateria pela fabricante. O sistema foi personalizado com um conversor DC, inversores HES880 e motores AMXE da ABB para otimizar a demanda de potência. Ganhou, ainda, um pantógrafo para conexão à catenária, de onde recebe energia a todo momento, inclusive nas subidas com caçamba carregada, com até 42 toneladas de minério.
Já o trolley eMine™ projetado pela ABB foi integrado ao sistema de controle distribuído 800xA, da empresa. O sistema conta com o que a ABB chamou de gêmeo digital, que prevê cenários de operação e manda comandos aos comutadores e subestações retificadoras ao longo da linha para direcionar energia ao ponto onde ela for necessária, evitando flutuações de voltagem e panes.
Em comunicado, Boliden, Epiroc e ABB disseram esperar que a linha de Kristineberg demonstre ser possível extrair minério sem queima de diesel, com mais segurança e menor custo por tonelada extraída. “Acreditamos que com nossos parceiros podemos criar soluções necessárias para que o sistema funcione em outras extrações”, afirmou no texto Peter Bergman, diretor-geral da Boliden Area.
Ainda no texto, a Boliden disse ter planos de implementar futuramente um sistema autônomo de trolley na extração Rävliden, anexa à Kristineberg, já tendo encomendado para esse fim outros quatro caminhões a bateria MT42 SG da Epiroc. Quando concluída, a linha terá extensão de 5 km, profundidade máxima de 750 metros e deve reduzir significativamente as emissões da operação de Rävliden.
As três empresas ressaltaram que a estruturação da linha Kristineberg representa um marco na descarbonização da mineração, que segue pressionada para ampliar a oferta de minerais essenciais, especialmente os metais da transição energética, ao mesmo tempo em que busca mitigar as próprias emissões e zerá-las até 2050.
Listada entre os setores de difícil descarbonização, a mineração gera aproximadamente sete por cento dos gases de efeito estufa liberados diariamente na atmosfera, sendo a queima de diesel em caminhões e equipamentos responsável por metade desse total. O projeto de Kristineberg teve financiamento da agência sueca de fomento à inovação Vinnova.