Quem ganha e quem perde?

Leopoldo Bougeard comenta sobre a redução dos investimentos em cultura em Poços

Neste artigo, Leopoldo Bourgeard comenta sobre a redução nos investimentos em cultura em Poços de Caldas e a necessidade da participação da iniciativa privada.

Difícil entender quando um palco fica vazio e a harmonia dos sons se perde no silêncio mortífero de um teatro. Poucos conseguem entender que uma atividade cultural também gera lucro. Gera emprego. Gera prazer. Gera boa dose de adrenalina para quem sobe ao palco e satisfação para quem assiste.

Será que todos teriam a noção subliminar do que representa essa atividade? Ao término de uma apresentação gera a vontade de comer uma pizza ou tomar uma taça de vinho num lugar aconchegante. A soma de tudo isso gera também impostos e emprego, ampliando a capacidade de circulação de dinheiro. Isso gera progresso.

Vejo que os administradores em geral olham a atividade cultural de forma muito restrita com um horizonte um pouco curto quando, na verdade, ele extrapola na sua própria essência. Se essa atividade gera lucro cabe ao investidor ter essa consciência e não deixar que os encargos sejam custeados apenas pelo setor público ficando as benesses e o lucro com aqueles que nada contribuem para a realização desses empreendimentos.

Lembro quando Luis Antonio Batista (ou Sebastião Navarro), trouxe da Itália o maestro Lavecchia para dirigir um grandioso espetáculo nas antigas instalações do Palace Cassino. Foi um empreendimento precursor, com grande sucesso, mas que se perdeu no tempo.

Surgiram outros espetáculos semelhantes, sempre com casa cheia e com a presença de muitos turistas. Percebo que estamos atravessando um momento crítico em decorrência da falta de recursos destinados ao setor cultural. Uma prefeitura literalmente quebrada tem que se resguardar e economizar para poder pagar as contas essenciais e necessárias.

Mas entendo, também, que cabe aos nossos gestores serem os indutores para que esses eventos não feneçam e se tornem fonte de recursos e gerador de renda. Cabe aos atuais Secretários de Turismo e Cultura unirem esforços e apresentar ao prefeito Sérgio Azevedo um verdadeiro projeto, viável, factível para o incremento das atividades culturais e ai inseridas as apresentações das nossas orquestras sinfônicas que contam com músicos de excepcional capacitação técnica e aptos a apresentações esplendorosas.

Mas nessa mesa de discussão cabe também a presença do representante dos hoteleiros, da Associação dos Bares, Restaurantes e Similares, da ACIA, e outras entidades representativas que, na verdade, serão os maiores beneficiados. Não se pode, também, esquecer de convocar os representantes do músicos e o que poderão oferecer para o bom andamento desse espetáculo.

Se isso acontecer ganham todos. Ganham os hoteleiros com seus apartamentos lotados, ganham os restaurantes e bares com suas mesas ocupadas, ganham os comerciantes do nosso Mercado Municipal vendendo seus queijos e guloseimas, ganham os postos de gasolina abastecendo os ônibus e carros de turistas, ganha a prefeitura com mais turistas no teleférico e nas Thermas Antonio Carlos e ganha com mais impostos arrecadados.

Se nada disso puder acontecer vamos ver um palco vazio e a harmonia dos sons se perdendo no silêncio mortífero de um teatro. E aí perdem todos. Fica a pergunta no ar: qual a melhor solução?

* Leopoldo Bougeard é advogado, escritor e ex-secretário municipal de Turismo. E-mail: lbougeard@yahoo.com.br