Pesadelo de uma noite de outono

Leopoldo Bougeard comenta mais um capítulo recente na crise política enfrentada pelo país

O advogado Leopoldo Bougeard comenta mais um capítulo recente na crise política enfrentada pelo país.

O País acordou em pânico nessa última quinta-feira. A operação Lava-Jato continua, com seus desdobramentos, causando verdadeiros tsunamis, aqui, lá e acolá, na politica brasileira.

O povo brasileiro se sente envergonhado, cabisbaixo e humilhado diante de tanta desonestidade praticada por políticos corruptos que, na verdade, foram eleitos por nós todos. Aos poucos o cidadão vai percebendo que foi usurpado em seu soberano direito de escolher seus representantes e começa a entender as razões desses políticos de buscarem, com avidez e de forma desmedida, o poder nas suas mais diversas formas.

Aos poucos a verdade começa a aparecer mesmo para aqueles que se julgam inocentes. Dessa vez a PF, com os resguardos necessários e com o devido amparo legal, está conseguindo rastrear a propina fornecida e sabendo, principalmente, de onde sai o dinheiro e para onde vai.

Os caminhos que poderiam ser floridos estão enlameados, putrefatos e nem mesmo um sol radiante será capaz, em curto prazo, de restaurar essa terrível situação. Vê-se que o processo ocorre em todos os níveis: legislativo, executivo e judiciário e nas esferas municipais, estaduais e federal.

Os milhões percolam por uma areia movediça e, enquanto isso, os dados oficiais já prenunciam mais de 14 milhões de desempregados. Por muito menos outros mandatários foram cassados ou renunciaram. A maioria deles voltaram ao ninho da corrupção e, como aves rapinas, continuaram a se alimentar de dinheiros espúrios.

Uma possível renuncia do presidente Temer, levará ao poder supremo, mesmo que por curto período, um jovem inexpressivo, que na juventude perambulava pelos arrabaldes da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A solução é a eleição indireta? Mas quem merece assumir tal responsabilidade em momento de total fragilidade política?

Certamente os conchavos já estão sendo articulados pelos corredores palacianos e no Congresso Nacional. Mudança na Constituição? Antecipação das eleições ? Estamos arriscados a ter um Bolsonaro à frente de um processo estranho e inseguro. Foi-se o tempo em que na política existiam nomes com respaldo cultural, ético, moral com a formação de estadista.

Exemplos como Afonso Arinos de Melo Franco para citar apenas um deles. Vivemos momentos diferentes de 64. Naquela época era uma luta ideológica. Hoje estamos na era da informática onde acertos e transações são feitas por e-mails, transações codificadas pela internet, transferências em instituições financeiras por senhas e em frações de segundos.

São milhões e bilhões que passam de mãos numa rapidez alucinante. E tudo sob a égide da falsa honradez. Infelizmente não se vota por ideologia mas nas pessoas que se transferem de partidos como se mudassem de residência e sempre em busca do poder. Hoje são 35 partidos habilitados e mais de 50 na espera para homologação.

É por isso que a moralidade tem que se aprimorar nos Municípios onde o povo vota. Caso não seja esse o melhor caminho pouco resta a fazer e continuaremos a ver os corruptos se deleitarem em suas mansões luxuosas à espreita de novas oportunidades. O povo? que se dane o povo nessas frias noites de outono…

* Leopoldo Bougeard é advogado e ex-secretário de Turismo. E-mail: lbougeard@yahoo.com.br