Ordem do Dia 08/01/25
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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia.
A vitória de Fernanda Torres, melhor atriz no Globo de Ouro, vem carregada de simbolismos. Primeiramente, seria a primeira atriz estrangeira, não europeia, premiada nesse concurso norte-americano, que premia quase exclusivamente atrizes que atuam nos EUA.
Mesmo europeias raramente são lembradas. E olha que eles fazem uns filminhos bons Europa afora… Em seguida à premiação, a academia do Oscar fez um comunicado oficial aos seus jurados: “Ainda estou aqui”, bem como os atores Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, seriam também elegíveis para categorias gerais do Oscar.
Qual seja: a de melhor filme, melhor ator e melhor atriz coadjuvante, por exemplo. Não concorreriam apenas na categoria “estrangeiro”. Isso, para um filme rigorosamente brasileiro não seria apenas inédito, mas monumental.
Este colunista, embora se aventure a comentar alguns filmes, tem o entendimento apenas de fã de cinema. Não iria além disso. Donde viria uma observação e uma pergunta.
Tendo vivido a infância e a adolescência nos anos 1970, e frequentado sistematicamente o cinema desde então, certamente esse filme impressiona pela qualidade e pelo detalhamento.
Virtudes raras no cinema brasileiro. Quem viveu os anos 1970, e foi ao filme, experimentou uma espécie de “déjà vu”. Viu-se perfeitamente inserido naquela época.
Entretanto, em que pese as inegáveis qualidades dessa notável película, pergunta-se: haveria algum componente político nessa premiação? Tal questão nasce de uma constatação: não existiriam coincidências no mundo real.
Estamos “comemorando” dois importantes ataques à democracia, tanto no Brasil quanto nos EUA. O 06/01 em Washington e o 08/01 em Brasília. O filme serve de alerta e advertência a tais eventos. Combina até demais. A ponto de ser a “cereja do bolo”.
Não se poderia dizer que o filme veio a esse propósito. Seria negar bisonhamente sua evidente dimensão histórica. Mas e quanto à premiação?
Teria sido influenciada pelas citadas efemérides e se constituído a partir de um inequívoco senso de oportunidade? Que os mais sábios deliberem.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com