A fabricação de máquinas de xerox na escola

A pedagoga Ana Paula Ferreira analisa a necessidade do professor estimular o aluno a pensar por si próprio

A pedagoga Ana Paula Ferreira analisa a necessidade do professor estimular o aluno a pensar por si próprio e não apenas fazer cópia de trechos selecionados de textos escolares.

“Eu dei cópia e ele não quis fazer!”, “Criança precisa copiar para aprender”, “Dou cópia para treinar a caligrafia”, “O menino precisa copiar para registrar a matéria”… Esses são alguns dos dizeres sobre cópia dentro do universo escolar embutidos de enorme senso comum que já deveria ter sido superado pela formação em nível Superior que é exigida para formação da maioria dos docentes.

É engraçado pensarmos que boa parte dos professores compreende e até afirmam que as crianças aprendem fazendo uso de todos os sentidos, e que muitas vezes um sentido é mais aguçado do que outro. Entretanto, a sala de aula é configurada de tal forma que o copiar é privilegiado sobre o fazer e o silêncio é a ordem dominante sobre o falar. Há uma predominância do auditivo e do visual sobre os outros sentidos.

A criança não aprenderá mais ao copiar. Enquanto copista ela realiza um serviço pior do que qualquer máquina de Xerox e se indagada sobre o que copiou dificilmente conseguirá falar sobre o assunto. Na época em que vivemos de fácil acesso tecnológico, a necessidade de copiar usando grafite e papel é menor ainda. Com um simples gesto de CTRL C e CTRL V a criança realiza a cópia do trecho selecionado.

Isso significa que leu, compreendeu, interpretou, ressignificou? Não! E daí uma das causas sérias do analfabetismo funcional, no qual alunos após passarem anos na escola ainda não detém a compreensão do código escrito. A caligrafia precisa ser bem apresentada até o 3° ano. Mostrar como é o traçado correto é uma das formas de cumprir a finalidade da letra cursiva: poupar o tempo da escrita diante da agilidade em se traçar esse tipo de letra. Mas, até mesmo a permanência do ensino da letra cursiva dentro do currículo é questionável… questão que não vou me ater nesse momento.

Suponhamos que em séries mais avançadas ainda não houve a devida apropriação do traçado correto ao ponto de ser uma escrita ilegível. O professor deve fazer a intervenção mostrando a diferença entre o que o aluno faz e a maneira correta, pois acreditar que cópias simplesmente irão desfazer o erro é ilusão!  O registro da matéria pode ser de diferentes formas: resumo, organização por tópicos, quadros, poesia etc.

Inicialmente, quando o aluno ainda não domina esses modelos de estruturação do conhecimento, o professor deve ser o escriba, mas sempre sinalizando como se faz, buscando a participação dos estudantes. Assim que vão se familiarizando, o professor deixa de ser o interventor e passa a ser mais o mediador, orientando as produções, avaliando, oferecendo um retorno para que os educandos entendam o que precisam melhorar. Sim! Dá mais trabalho!

As escritas não serão iguais, pois não será uma linha de montagem de registro, porém, diante da necessidade de ler, reler, organizar a escrita, melhorar a caligrafia pra ser lido, contribuirá para a autonomia e para a emancipação. Evitaremos de formar pseudo-cidadãos que reproduzem o discurso da grande mídia, que repetem a rotina, o senso comum, a vida, sem questionar, conformados que estão que na grande cópia de tudo. Por isso, deixemos de produzir máquinas xerográficas de pouca qualidade para produzirmos pessoas que pensam.

* Ana Paula Ferreira é supervisora da rede estadual e mestranda em Educação