Entrevista: Thiago Biagioni

O ex-secretário municipal de Serviços Públicos e empresário Thiago Biagioni (PDT) concedeu entrevista à revista digital One Weekend.

Na conversa com o jornalista Rodrigo Costa, Thiago analisa a sua passagem pelo cargo de secretário no primeiro ano da gestão do prefeito Sérgio Azevedo, além de analisar a política em Poços de Caldas. O Jornal da Cidade reproduz abaixo os principais trechos da entrevista.

Ainda no primeiro mandato do prefeito Sérgio Azevedo você deixou a Secretaria Municipal de Serviços Públicos para se dedicar à vida empresarial. O que é mais difícil? Ser secretário ou empresário?

Thiago Biagioni – Quando aceitei o convite do prefeito para assumir a Secretária de Serviços Públicos, tive que literalmente deixar minha empresa nas mãos de meu irmão e minha mãe. Entendia que não conseguiria fazer um bom trabalho se não me dedicasse 24 horas à função de secretário. Foi isso que fiz nos 3 anos e 2 meses que estive a frente da pasta. Não tenho dúvida nenhuma que a vida de empresário é muito mais difícil, no poder Público os recursos chegam todo mês de forma automática e o que você deve fazer é ser um bom gestor. Já na iniciativa privada, tudo é diferente. Você tem que conquistar o recurso, saber comprar e vender, ter planejamento estratégico, pensar a longo prazo e cumprir todas obrigações impostas pelo Estado em dias e datas estabelecidas, sempre arcando com juros altíssimos e multas estratosféricas quando não consegue pagar as despesas nas datas estabelecidas por falta de receitas. Não é fácil empreender em nosso país com tamanha e volumosa carga tributária justamente para financiar o sempre enorme Estado.

A Secretaria de Serviços Públicos foi a mais bem avaliada da gestão do prefeito Sergio Azevedo enquanto você esteve à frente. Na sua visão, a que se deve tal aprovação aos olhos da população?
Thiago Biagioni – Sem dúvida nenhuma, a Secretaria de Serviços Públicos foi a melhor avaliada no primeiro governo do prefeito. A Secretaria de Comunicação tinha diversas pesquisas e todas apontavam nossa secretaria a mais bem avaliada perante a população, a imprensa e até mesmo a oposição reconhecia o trabalho de excelência da secretaria. Tínhamos lá um trabalho em equipe, reuníamos toda segunda-feira de cada semana para planejarmos a execução das atividades da secretaria, participavam mais de 15 chefias de divisões e setores da secretaria, todos eram ouvidos e davam suas opiniões, foi assim desde a primeira semana até o último dia em que me despedi da secretaria. Existia planejamento a longo prazo, trabalhávamos com produtividade e conquista de resultados. Sabíamos de todos problemas que a cidade tinha e mapeamos tudo e íamos executando as ações gradativamente de acordo com planejamento estratégico, levando em conta épocas de chuvas e secas. Chegamos a executar mais de 40 intervenções por toda cidade. Nossa secretaria deu a cara para administração do prefeito em seu primeiro mandato e foi o divisor de águas na encruzilhada das eleições em 2020.

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Em 2020 você chegou a ser cotado como candidato a vice-prefeito do Coronel Frederico pelo partido Novo. O que de fato aconteceu e como foram essas articulações?
Thiago Biagioni – Jamais tive pretensão alguma em ser candidato a vice-prefeito, seja do pré-candidato do partido Novo, como de qualquer outro. O que existia era especulações tanto da imprensa como de amigos e pessoas que admiravam o meu trabalho. Nunca trabalhei para que isso acontecesse. Fiz parte da Administração que buscaria uma reeleição e não seria justo ser candidato a qualquer cargo, esse sempre foi meu pensamento e sempre disse isso aos mais próximos. O que realmente aconteceu é que após 3 anos e 2 meses, me senti desmotivado a continuar. Muitas especulações sobre meu nome como candidato começaram a surgir logo no final de 2019. Não me sentia mais confortável dentro da administração, começaram a me colocar como adversário. Apesar de sempre afirmar para todos que não seria candidato a nenhum cargo nas eleições de 2020, todos começaram a me colocar como candidato e o trabalho na secretaria começou a ser afetado. No primeiro momento tentando fazer ingerência de como eu utilizava minhas redes social, depois interferências na organização dos trabalhos da secretaria como proibição de pagamentos de serviços extras aos servidores, falta de repasses aos fundos da secretaria, fornecedores, entre outros problemas. Senti que era momento de agradecer ao prefeito e a todos pela oportunidade e voltar a cuidar de meus negócios.

Na sequência, você se filiou ao PDT e apoiou o candidato Eduardo Junqueira a prefeito. O que o levou a tomar essa decisão?
Thiago Biagioni – Quando ficou claro para todos que deixaria o cargo de secretário. Passei a ser procurado por diversos candidatos a prefeito e o Eduardo foi um deles, temos dois amigos em comum e nos reunimos por diversas vezes. Desmotivado por tudo que passei nos últimos meses na secretaria e certo que deveria retornar as atividades privadas na minha empresa, assumi um compromisso de ajudar o Eduardo a entender um pouco sobre a cidade. Ele é um garoto do bem. Possui uma formação exemplar em uma das mais renomadas instituições de ensino do País. Não conhece muito sobre administração pública em Poços e a realidade dos bairros vivida pela população no dia dia, mas é um menino esforçado que aprende rápido e quando ocupar alguma função publica poderá tentar colocar em prática o que aprendeu na teoria. Estando junto a ele tentei passar o máximo de informações sobre nossa cidade para que ele procurasse entender sobre Poços.

Qual a sua avaliação sobre o resultado das eleições de 2020?
Thiago Biagioni – As últimas eleições foram atípicas. A pandemia afetou tudo desde a saúde, emprego, economia e principalmente a cabeça das pessoas. No momento em que a política já vem sofrendo desgastes e falta de credibilidade, as últimas eleições acabaram não cumprindo seu papel de discutir os principais problemas da cidade e suas soluções mesmo que fosse a longo prazo. Todos queriam saber se existiriam vacinas e se conseguiriam viver caso precisassem de leitos em hospitais. Portanto, ela não acabou cumprindo seu papel por completo.

Como você vê o desempenho do Legislativo no ano passado?
Thiago Biagioni – Foram eleitos diversos vereadores em primeiro mandato. Muitos deles em seu primeiro ano procuraram aprender de fato o que é ser um vereador. Muitos confundem o papel de vereador com o de clientelista. O vereador é um fiscal do povo que deve ter equilíbrio e discernimento para discutir os principais problemas da cidade, fiscalizando e cobrando o executivo. A câmara nas eleições de 2020 teve uma enorme renovação, ainda é cedo, mas pelo que está se desenhando ela será igualmente renovada em 2024.

Recentemente, seu nome voltou a circular nos bastidores políticos como possível candidato a deputado. Existe essa possibilidade?
Thiago Biagioni – Realmente tenho recebido diversos convites para ser candidato a deputado. Trabalhei por quase 12 anos na assessoria parlamentar do deputado federal Geraldo Thadeu. Realizamos um excelente trabalho em mais de 100 municípios da região. Fui o coordenador regional do PSD na coleta de assinaturas para fundação do partido em 2011, trabalhando em quase 120 municípios e certificando 35mil assinaturas de apoio. Na Secretaria de Serviços Públicos fui ordenador de despesas da ordem de quase R$ 40 milhões. Ao longo desses anos de vida pública me sinto preparado para ocupar qualquer cargo público, mas nessas eleições não tenho nenhuma pretensão em disputador qualquer cargo eletivo. Estou vivendo o melhor momento pessoal e profissional da minha vida.

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Quais os seus planos políticos?
Thiago Biagioni – Confesso a você que tenho um sonho. Esse sonho é de ocupar um cargo executivo, sou um cara trabalhador, resolutivo, muito dinâmico, não tenho preguiça, também não tenho pressa e sei que o momento pode chegar a qualquer hora. Até lá, vou me preparando cada vez mais para quando tiver essa oportunidade fazer a diferença como sempre fiz em tudo que tive oportunidade em administrar.

Quais as suas expectativas para 2022? Como você enxerga o cenário político estadual e federal? Acredita em uma terceira via?
Thiago Biagioni – Politica é como o céu, segundo Tancredo. Hoje vejo uma eleição polarizada de dois lados no cenário federal. Não consigo enxergar terceira via nesse momento, por mais que se esforcem alguns grupos políticos para construí-la. Já no ambiente estadual tanto o PT como o PSDB estão desmoralizados e não apresentam nenhum risco ao governador Zema.

Qual a sua avaliação dos governos Sérgio Azevedo (PSDB), Romeu Zema (Novo) e Jair Bolsonaro (PL)?
Thiago Biagioni – O governo do presidente Jair Bolsonaro passa por um momento de avaliação baixa, a pauta reformista defendida pelo Paulo Guedes pouco prosperou, apesar de ter respondido bem durante a pandemia com o pagamento dos Auxílios, subsídios para segurar empregos e o Pronampe para socorrer as empresas, mas o entreguismo ao centrão tem engessado as ações bolsonaristas, mas é ainda o candidato que mais faz antagonismo ao PT, enquanto os demais procuram flertar na esperança de apoios. O Zema é o típico “minerin”! Hoje, ele é considerado exemplo de austeridade na gestão publica no país. Soube conduzir bem o Estado apesar de não conseguir fazer as reformas necessárias e as privatizações que são essenciais para alavancar o estado. Quando comparado com os últimos governos do PT e PSDB, sem dúvida nenhuma nada de braçada. O governo municipal começa olhar para sua própria sombra. No primeiro mandato, mesmo com a inépcia de diversas secretarias, a nossa secretaria deu a ele o argumento que salvou o mandato, e que construiu sua reeleição, de que era o prefeito que não fazia obras e que cuidava da cidade. Durante a campanha, o discurso era que neste novo mandato tudo se resolveria, porque estava arrumando a casa, pois bem, já se passaram um ano e um mês. Não dá mais para comparar com administrações anteriores, já se passaram cinco anos. São inúmeros problemas que não se resolveram e o grande problema que o prefeito enfrenta é que as peças do tabuleiro são as mesmas e elas não se movem no sentido de resolução destes problemas.