Demora na biópsia atrasa tratamento do câncer de mama

O pior inimigo do paciente acometido por um câncer é o tempo. Quanto mais precoce o diagnóstico, quando mais rapidamente se inicia o tratamento, maiores as chances de cura ou sobrevida. As afirmações foram feitas por especialistas durante audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (30/10/19). O evento marcou o encerramento das atividades do Outubro Rosa, mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, no Poder Legislativo.

O representante da Associação Brasileira de Mastologia, Henrique Couto, afirmou que, no Sistema Único de Saúde (SUS), o tempo entre a mamografia e a entrega do resultado da biópsia, para que se inicie efetivamente o tratamento do câncer de mama, é de no mínimo 80 dias, considerado alto demais. “Precisamos que o resultado da biópsia venha dentro de 30 dias, se quisermos salvar mais mulheres”, disse o médico. Na opinião dele, os avanços tecnológicos na área da oncologia são importantes, mas também é preciso discutir a eficiência e a eficácia de todo o sistema de saúde.

O médico lamentou que esteja havendo a redução na cobertura de mamografia no País, ancorada numa falsa propaganda de que o exame anual não é necessário, ou mesmo que pode ser prejudicial à saúde da mulher. De acordo com o médico, que é mastologista, diversos estudos comprovam que a mamografia ajuda a reduzir as mortes por câncer de mama em 12%, entre as mulheres de 40 a 50 anos. 

Uma das convidadas para a audiência pública, a médica oncologista Priscila Soares, de Montes Claros (Norte de Minas), citou um estudo realizado por ela no mestrado, por meio do qual ela acompanhou, durante cinco anos, a situação das mulheres com câncer de mama, no SUS. Conforme relatou, 54% das mulheres já chegam aos serviços públicos de saúde com o câncer nos estágios 3 e 4. Apenas 13% chegam nos estágios 1 e 2, o que comprovaria a necessidade de se investir mais no diagnóstico precoce da doença.

Subfinanciamento – O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Pimenta (PDT), disse que o SUS paga cerca de R$ 30 pela realização de uma biópsia de tecido mamário, valor irrisório que não cobre nem o custo da agulha utilizada para realização do procedimento.

O deputado também destacou a necessidade de desburocratizar a instalação de serviços de oncologia no Estado, citando o caso da cidade de Porteirinha (Norte de Minas), onde o prefeito já se dispôs a equipar um hospital local, para fazer a extensão dos serviços de quimioterapia e radioterapia, que hoje são realizados apenas em Montes Claros. “Estamos lutando para viabilizar isso, há cinco meses, para ajudar aquela população, mas ainda não obtive resposta da Secretaria de Estado da Saúde”, informou.

Já o médico Henrique Couto também defendeu que a Lei 23.449, de 2019, originada do Projeto de Lei (PL) 18/15, do deputado Doutor Wilson Batista (PSD), seja regulamentada e colocada em prática o mais rapidamente possível, para que as mulheres classificadas com alto risco de desenvolvimento de câncer de mama e de ovário possam ter acesso gratuito, pelo SUS, aos exames de mapeamento genético.

Galzuinda Maria Reis, médica e consultora da Secretaria de Estado da Saúde (SES), destacou a preocupação do governo com a prevenção do câncer de mama, mas admitiu que ainda há um longo caminho a percorrer, até se conseguir o diagnóstico com resultado da biópsia em 30 dias, defendido pelo médico Henrique Couto. “Nosso desafio é gigante. Precisamos de políticas públicas mais eficientes e precisamos também do Ministério da Saúde, para angariar os recursos necessários”, disse ela.

Representantes da ONG Ação Solidária às Pessoas com Câncer (Aspec), de Belo Horizonte, pediram que o assunto não seja debatido somente no mês de outubro, mas em todas as oportunidades possíveis. “As pessoas sofrem até porque não têm nenhuma informação sobre o que é, de fato, a doença ou sobre como se dá o tratamento”, afirmou Rosângela Dias, psicóloga voluntária da entidade.

Médica destaca importância de minimizar sofrimento de pacientes com câncer

Durante a audiência, a oncologista Priscila Soares também destacou a importância da solidariedade para ajudar a minimizar o sofrimento das pessoas com câncer. Ela é diretora de uma clínica particular que atende pacientes oncológicos, mas também é fundadora de uma entidade beneficente que acolhe pacientes carentes.

A Associação Presente de Apoio a Pacientes com Câncer foi criada há 15 anos, em parceria com um religioso local, o Padre Tiãozinho. Funciona no bairro Canelas, em Montes Claros, oferecendo hospedagem, alimentação, acompanhamento psicológico, atividades terapêuticas e de lazer, e até cuidados paliativos para os pacientes em estágio terminal da doença.

“Como as pessoas vão se curar de um câncer se elas vêm fazer o tratamento, mas não têm uma alimentação adequada, não têm onde dormir ou tomar banho? Precisamos discutir isso também”, ponderou a médica.

A Associação Presente também organiza, há vários anos, no mês de abril, um grande mutirão de diagnóstico precoce de vários tipos de câncer. 

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