Colégio Estadual Central reivindica retomada da Unidade II

A retomada total das atividades da Unidade II e a possibilidade de o aluno escolher entre matricular-se no ensino integral ou no ensino regular, conforme suas necessidades, estão entre as principais reivindicações de alunos e professores da Escola Estadual Governador Milton Campos, conhecida como Colégio Estadual Central, uma das mais tradicionais instituições de ensino de Minas Gerais.

Há décadas referência no ensino público de qualidade no Estado, a escola recebeu, nesta segunda-feira (11/11/19), visita técnica da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Os parlamentares ouviram as principais demandas da comunidade escolar, percorreram as duas unidades da instituição e comprometeram-se a encaminhar as reivindicações aos órgãos competentes.

Localizado no bairro de Lourdes, área nobre de Belo Horizonte, o colégio é formado por duas grandes unidades, mas apenas uma está em pleno funcionamento, a mais antiga, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer nos anos 1950. Em reforma desde 2013, a Unidade II está praticamente desativada desde janeiro deste ano, quando a Secretaria de Estado de Educação (SEE) suspendeu as aulas no prédio principal devido a problemas na instalação elétrica das salas.

No local funcionam apenas, em prédios anexos, os laboratórios de física, química, biologia e informática, além das quadras esportivas cobertas. Embora os anexos sejam estruturas recém-construídas ou reformadas, carecem de equipamentos simples, mas fundamentais, como bancos, cadeiras e lousas. Ainda assim os alunos fazem questão de usar esses laboratórios, devido à qualidade do acervo, conforme explica a direção da escola.

Outra importante demanda para o adequado funcionamento dos espaços é a regularização do sinal de internet, que apresenta falhas constantes, inviabilizando o aproveitamento da sala de informática.

A segurança é outro ponto falho, sobretudo nos espaços livres da Unidade II, frequentemente ermos. Episódio recente ilustra o grau de insegurança no local: um professor foi atacado por um cão da raça pit bull, solto pelo dono no local.

Comunidade critica decisão unilateral do governo

Alunos e professores também se queixam de decisão unilateral do Governo do Estado que transformou a escola em instituição de tempo integral, sem ouvir a comunidade. Eles lamentam não ter sido consultados e alegam que deveria ser dado ao aluno a possibilidade de optar, já que muitos precisam conciliar trabalho com estudo e, por isso, não têm condições de se manter na escola por dois turnos.

Segundo o diretor, Reinaldo Cordeiro, e o vice-diretor, Rodrigo Machado, o ideal seria o aproveitamento total das duas unidades, destinando uma para os alunos de tempo integral e outra para os de curso regular, em meio período.

A comunidade reivindica, também, que os recursos para a instituição sejam dobrados. Atualmente, dizem, as verbas levam em conta apenas o número de alunos matriculados. Contudo, como esses alunos são obrigados a permanecer na escola em tempo integral, os recursos acabam sendo insuficientes.

A escola, que já chegou a ter cerca de 6 mil alunos matriculados, hoje conta com apenas 807 e grande parte das instalações permanece ociosa. Professores e diretores entendem que esse número poderia ser ampliado, mas, para isso, defendem, também, além da ampliação de recursos, a nomeação de um número maior de professores e de demais funcionários.

A instituição está inserida no programa Mãos à Obra nas Escolas e a conclusão das obras na Unidade II já está em processo de licitação, com uma verba orçamentária de R$ 169 mil reais. “Nossa expectativa é que no próximo ano já estejamos em condições de usar o espaço”, afirmou o diretor Reinaldo Cordeiro.

Parlamentares prometem encaminhar demandas

“Vamos batalhar pela reabertura da Unidade II”, prometeu a presidenta da Comissão de Educação da Assembleia, deputada Beatriz Cerqueira (PT). Ela considera importante e bem-vindo o ensino de tempo integral, mas, a exemplo de diretores, alunos e professores, acha que a secretaria deveria ter ouvido a comunidade e ofertado também o ensino regular, dando ao aluno a possibilidade de optar.

Ela se comprometeu, também, a encaminhar à Secretaria de Estado de Educação pedidos de providência para agilização da reforma da unidade e para que seja ofertado o ensino regular. “É preciso entender a realidade dos estudantes que precisam trabalhar e estudar”, afirmou a deputada.

O deputado Bartô (Novo) também se dispôs a intermediar o diálogo com o governo, visando a atender as principais demandas da comunidade escolar. Defensor do liberalismo econômico, ele propõe a privatização de algumas atividades da instituição, o que, a seu ver, poderia melhorar a gestão escolar. “É triste ver uma estrutura tão grande paralisada”, lamentou.

Também participou da visita o deputado federal Rogério Correia (PT-MG). Ex-aluno da escola, ele defendeu a retomada das atividades da Unidade II e também se comprometeu a dialogar com o Governo do Estado.

Na conversa com parlamentares, alguns professores questionaram também as parcerias entre o Executivo e instituições privadas de ensino, que têm ofertado cursos de capacitação para a comunidade. “Assusta o grande número de institutos privados assumindo atividades na escola pública”, disse um professor.