De calamidade administrativa

O vereador Paulo Tadeu (PT) faz considerações sobre as polêmicas medidas recentes feitas pela atual Administração Municipal.

Uma coisa é o governante e outra o que governa”. “Para falar ao vento, bastam palavras, para falar ao coração, são necessárias obras”. Estas frases do Padre Antonio Vieira em seu belíssimo Sermão da Sexagésima (1655) sinalizam para uma melhor compreensão do que vivemos em Poços de Caldas.

Uma coisa é ter o título de governante, a outra é saber governar, distinção fundamental, porque a cidade assiste estarrecida à sequência impressionante e devastadora de atitudes do prefeito que contrariam qualquer lógica administrativa. Em um mesmo dia “decreta” uma suposta calamidade financeira no Município e envia à Câmara um projeto para tomar quase 100 milhões de reais emprestados.

A administração diz que não consegue pagar as contas atuais, mas afirma aos Vereadores que terá condições de arcar com quase trinta milhões de reais apenas com juros nos quatro primeiros anos de contrato, isso mesmo, trinta milhões sem nenhuma amortização! Nesta sexta-feira, as pessoas que usam o Restaurante Popular foram surpreendidos com um aumento de 175% no preço das refeições.

Trabalhadores, trabalhadoras da área central e pessoas mais pobres foram duramente atingidas pela medida impensada, insensível e, mais que isso, cruel da administração municipal. Joga nos ombros dos mais pobres o peso de sua incapacidade de administrar. Uma coisa é o administrador, a outra é o que administra.

Toda essa sequência errática de decisões vem acompanhada de palavras e mais palavras, com a mesma leviandade com que as lançava ao vento durante a campanha – “lei não se discute, lei se cumpre” para prometer o piso para os professores no primeiro dia de governo. “Quando o gestor é bom, o dinheiro aparece”, uma espécie de auto-crítica profética do desastre que é sua gestão.

A culpa é sempre dos outros, quase dois anos depois, a culpa é da gestão passada ou a culpa é do governo do Estado, falando, falando, falando. A verdade é o que menos conta, acha que pode enganar todo o tempo. Não pode, não dá. A dupla Sérgio e Flávio assumiu a prefeitura com restos a pagar na casa de 19 milhões com mais dinheiro em caixa que isso; é verdade que inventou contas e déficits para tentar mostrar que a coisa não era bem assim.

No final do seu primeiro ano de governo, os restos a pagar estavam na casa de 49 milhões, ainda assim porque cancelou indevidamente dividas previdenciárias. Em setembro deste ano já estava na casa de 93 milhões. A folha de pagamento projeta um crescimento de quase 20 % em 2017 e 2018.

E a Receita? A receita cresce em cerca de 20% entre o resultado de 2015 e 2018. Apenas a receita tributária (IPTU, ITBI, ISSQN e taxas) crescerá cerca de 26% no mesmo período. Os repasses do governo federal crescem 6,5% de 2016 a 2018, ficando abaixo do orçado em 9%. Os repasses do Estado, no mesmo período, subiram 17%, superando a expectativa em 9%. São dados de balanços oficiais, assinados pelo prefeito e seu secretário de Fazenda. Sobram palavras ao vento, nada de obras que falem ao coração.

* Paulo Tadeu é vereador, ex-prefeito de Poços de Caldas e médico veterinário. E-mail: paulotadeu@pocosdecaldas.mg.leg.br