Bastidores Dossiê Saúde 05/05/22

Em Bastidores Dossiê Saúde, versão especial da coluna Bastidores, o jornalista Rodrigo Costa destrincha as relações entre o município de Poços de Caldas e empresas terceirizadas na área da saúde, além de outros temas ligados ao setor.

PRAZER, JOSÉ
José nasceu em Botelhos, cidade localizada a exatos 37 km de Poços de Caldas. Mas já tem muito tempo que passou a morar por aqui, mais precisamente, no Parque Esperança, na Zona Sul. Casado, pai de dois filhos, trabalhador conhecido no Jardim Kennedy. Um homem calmo, conhecido por fazer amizades de forma fácil e que nunca teve inimigos. Os mais próximos garantem que sua netinha se tornou sua grande paixão. Talvez por isso, quando sua nora anunciou recentemente que estava grávida, tenha ficado tão feliz. Um apetitoso arroz carreteiro se tornou uma das suas especialidades. Cozinhar para os filhos, aliás, sempre foi um prazer e motivo de felicidade.

DIA A DIA
A parceria de José com a rotina é duradoura. Acordar tarde? Nem pensar! Cedinho, a primeira parada, sempre na casa do irmão. Tempo também nunca faltou para uma passada diária na irmã, que produz salgados sob encomenda. Na sequência, uma caminhada até a casa da mãe, o seu local de trabalho. No mesmo horário de sempre, completa dedicação a uma tarefa das tarefas mais antigas da humanidade: a produção de bancos e mesas em madeira.

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ACIDENTE
A luta de José contra a diabetes é antiga. Por isso, ao cortar o pé em um pequeno acidente em janeiro deste ano, não hesitou em procurar por ajuda médica. Foi até o Hospital Municipal Margarita Morales por duas vezes. Em ambas, recebeu a orientação de que deveria voltar para casa após receber a prescrição de um medicamento. Um dia, no entanto, após uma chuva forte, a irmã Izabel chegou em casa e o encontrou ensopado. Questionado sobre o motivo de estar daquela forma, José disse sentir mal-estar. Estava molhado não apenas por causa da chuva. Mas também pelo suor e calafrios que sentia. A irmã disse que deveriam ir ao hospital.

TRIAGEM
Ao chegarem ao Margarita Morales, uma enfermeira, conhecida e respeitada pela população pelo longo tempo que atua na unidade, prontamente reconheceu o paciente. “O senhor aqui de novo?”, disse. José respondeu que sim com a cabeça e falou que seu machucado no pé havia piorado. Mais uma vez, após passar pela triagem, foi encaminhado para a consulta. A médica que o atendeu, apesar do quadro claro de internação, decidiu liberá-lo. Um antibiótico foi prescrito e o encaminhamento para a realização de um exame foi entregue, cujo resultado deveria ser retirado no dia seguinte.

DIAS I E II
Para a retirada do exame, dessa vez, acompanhado do irmão, José caminhou pela quarta vez ao Margarita Morales. A mesma enfermeira o recebeu e insistiu em sua internação junto aos médicos. Era visível que ele não estava bem. No segundo dia de internação, a família recebeu a informação de que haveria a necessidade de uma internação em um outro hospital, como de praxe, e que devia-se aguardar, a partir de então, um retorno do SUS Fácil.

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DIAS III E IV
No terceiro dia de internação e à espera de sua transferência, uma médica, em conversa com a irmã de José, disse que não estava descartada a possibilidade de amputação do pé em virtude do ferimento. Ao receber a notícia e ainda em choque, a família começa uma busca incessante por ajuda. Em pouco tempo, se multiplicam os contatos telefônicos. Sem qualquer tipo de suporte ou orientação do poder público, por conta própria, parentes se dirigiram ao Hospital Santa Lúcia e à Secretaria Municipal de Saúde. Em vão. Enquanto eles se esforçavam, o estado de José começava a piorar.

DIA V
É no quinto dia de internação que surge pela primeira vez uma figura já destacada pela Coluna Bastidores – Dossiê Saúde em ocasiões anteriores: a médica Juliana Maranhão. “Entendo a sua preocupação, sei que é um cuidado de família. Mas saiba que o José está progredindo bem e que vem sendo tratado com os medicamentos corretos. O estado da ferida no pé dele está normal”, disse para a irmã em uma das visitas ao paciente. Àquela altura, Juliana Maranhão exercia o cargo de diretora do Hospital Municipal Margarita Morales, nomeada pelo prefeito Sérgio Azevedo (PSDB). Ela também é sócia da Prohealth, empresa terceirizada para atuar em hospitais de Poços de Caldas, conforme esta coluna já repercutiu anteriormente.

VISITA À SECRETARIA
Em mais uma tentativa de conseguir a transferência e vaga para José, sua irmã se dirigiu mais uma vez à Secretaria Municipal de Saúde. Ela foi recebida por uma funcionária, que a atendeu e ouviu com cuidado os motivos a respeito da necessidade de transferência do irmão. Naquele momento, os remédios já não faziam efeito e ele reclamava de dor. A orientação foi para que após às 16h entrasse em contato por telefone através do número 3697-5970. Ansiosa e preocupada, às 15h45 ela ligou para o número que lhe foi entregue escrito em um pequeno papel, para saber se houve sucesso em relação à vaga e à transferência. Do outro lado do telefone, a servidora reclamou que o telefonema estava sendo feito quinze minutos antes do combinado. Após insistência, a servidora da secretaria diz que não conseguiu resolver a questão. A irmã de José implora por uma transferência mesmo que para fora de Poços de Caldas. “Não posso fazer nada”, foi a resposta. “E abaixe o seu tom de voz”, completou. Após sucessivos pedidos por ajuda, todos negados e já em desespero, a irmã diz que irá pedir ajuda da mídia na solução do caso. “Se eu fosse você não buscaria por ajuda na mídia e cuidado com o nome de quem você coloca, pois daqui você não conseguirá nada”. Ao questionar a servidora se isso seria uma ameaça, a resposta foi de que ela deveria entender o recado como achasse melhor.

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CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO…
O que fazer quando um parente se encontra em tal situação? Buscar por ajuda nas redes sociais? Tentar apoio da imprensa? Procurar pelo auxílio dos vereadores? A quinta parte da Coluna Bastidores – Dossiê Saúde revela a luta dos familiares pela vida de José, a omissão do Executivo e também do Legislativo. Leia todas as colunas anteriores aqui.

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