Brasil: 56% do mercado editorial é digital, aponta censo

Um censo inédito realizado no Brasil apontou que a maior parte dos jornais e revistas já fez a transição do impresso para o digital ou é nativa desse ambiente. A pesquisa, conduzida pela Fran6 Análise de Mercado a pedido da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER), identificou 1.262 editoras em atividade no país e, dessas, 711 (56%) se autodeclaram digitais.

Segundo os dados, 551, ou seja, 44% dos veículos entrevistados ainda têm como principal negócio as edições impressas – embora a maioria também esteja no online. E além do perfil de atuação, o estudo traçou um mapa de como estão distribuídos geograficamente os jornais e revistas no Brasil, além de analisar o porte dessas organizações e a periodicidade de suas publicações.

A região com maior concentração de editores ativos é o Sudeste, com 388 publishers identificados. Na sequência, estão o Centro-Oeste, com 299; o Nordeste, com 278; o Sul, com 210; e o Norte, com 87. Sobre a proporção de veículos digitais, a pesquisa aponta uma tendência de descentralização. O Centro-Oeste é a região com mais jornais digitais (31,8% do total nacional) e o Nordeste, de revistas (39,8%).

“É uma forma de identificar o mercado, sua abrangência e as características dos diferentes players em um momento de grandes mudanças tecnológicas e de conteúdo”, disse a socióloga e pesquisadora à frente da Fran6, Adélia Franceschini, em entrevista à ANER. Para ela, a renovação dos modelos tradicionais e o nascimento de veículos nativos digitais demonstram a força do segmento e apontam novos horizontes para o setor.

Opinião compartilhada por Thiago Lins, publicitário e CGO da Robox, uma plataforma de gestão e venda de assinaturas especializada no mercado editorial. Segundo ele, o censo traduz em números a transformação digital que há anos já é vivida pelos publishers. “A pandemia certamente acelerou esse processo e trouxe consequências que ainda serão sentidas por muito tempo”, disse.

Ele cita como exemplos dessas novas dinâmicas o fato de muitas redações terem adotado o modelo home office e a participação crescente da tecnologia na indústria jornalística. “Que o futuro é digital, a gente já sabia. O que precisamos nos questionar agora é: será que estamos fazendo isso da maneira certa? Porque, afinal, migrar para o digital não significa disponibilizar o PDF da sua publicação online”, ponderou Lins.

A pesquisa destaca ainda a capacidade de adaptação das editoras. De acordo com o documento, uma significativa parcela das editoras entrevistadas veio do impresso, fazendo adaptações que funcionassem melhor na web, inclusive nos próprios nomes e títulos das publicações. Além disso, há uma tendência de pequenos jornais de localidades pequenas se unirem em grupos para dividir a mesma plataforma.

Thiago explica que esse fenômeno permite a sobrevivência de pequenos veículos no digital. Segundo ele, para empreender com sucesso nesse novo contexto, é necessário repensar toda a lógica de produção e consumo da notícia. “Numa sociedade cada vez mais conectada, os publishers estão começando a entender que a notícia não é mais o produto final do jornalismo. Para vencer a disputa pela atenção dos usuários, é preciso encará-la como ponto de partida na criação de produtos inovadores”, destacou o especialista.

O Censo Brasil de Editores de Jornais e Revistas é resultado de uma parceria ANER e ANJ com o Meta Journalism Project e o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, sigla em inglês).