Invasão Zumbi surpreende em meio à mesmice do subgênero

Filme coreano trata do apocalipse zumbi sob outra visão

O jornalista João Gabriel Pinheiro Chagas Freitas comenta sobre o que achou de Invasão Zumbi, filme coreano sobre o apocalipse zumbi.

Disponível no cardápio da Netflix, Invasão Zumbi (2016) é, possivelmente, o melhor filme de zumbi desde Madrugada dos Mortos (2004). E isto não é pouco, considerando que neste século foram lançadas produções que já marcaram a história do subgênero.

Extermínio (2003) e a série The Walking Dead (2010-), que talvez seja a obra máxima sobre zumbis, são bons exemplos de produções bem sucedidas que agradaram tanto a crítica quanto o público.

Em um primeiro momento, Invasão Zumbi pode causar desconfiança. Isto porque o filme é (sul)coreano e não é muito comum produções deste país, ainda mais com a temática em questão, fazerem sucesso por aqui.

Mas o filme surpreende, reciclando com competência clichês típicos. Invasão Zumbi se preocupa em construir alguma história para justificar o apocalipse que está por vir. No caso, somos apresentados ao administrador de investimentos Sok-woo (Gong Yoo), que não pensa em outra coisa que não seja a sua carreira.

Por conta disto, ele e a esposa se separaram. Sok-woo tem uma filha pequena, Soo-An (Kim Soo-Ahn), que mora com ele. A criança é explicitamente infeliz, pois sente saudade da mãe e se ressente da ausência do pai. O presente que ela ganha de aniversário é emblemático para ilustrar a situção.

INVASÃO ZUMBI
É diante da insatisfação da filha que Sok-woo leva a garota ao encontro da mãe, que está em outra cidade. O que eles não esperavam é que no caminho, o apocalipse zumbi se instalasse. Como ocorre com a maioria dos filmes do subgênero, não se sabe ao certo o que fez com que humanos se tornassem zumbis raivosos.

Aqui, somos informados já no decorrer do filme, de forma superficial, que a causa seria radioativa, por conta do vazamento em instalações nucleares. A grande sacada do filme é evitar que o apocalipse ganhe amplitude, ou seja, o caos fica concentrado em uma viagem de trem em sua maior parte, o que por incrível que pareça, consegue ser absolutamente envolvente e tenso.

A motivação para que a ação do filme aconteça no trem é muito bem justificada pelo roteiro. Primeiro, porque é um meio de transporte comum em países asiáticos desenvolvidos, como a Coreia do Sul e o Japão. Depois, porque a cidade de Busan é o único refúgio contra os zumbis, apesar de não ser o destino final de quem embarcou. O problema é chegar incólume até lá.

Não é preciso advinhar que o misterioso vírus que causa a epidemia também embarca no trem. Quando os passageiros descobrem o que virá pela frente, surgem bons coadjuvantes para segurar o roteiro: o casal Sang-Hwa (Dong-seok) e Sung-kyung (Yumi Jung) e o executivo Yong-suk (Kim Eui Sung) são os principais.

O roteiro dá brechas para explorar, mesmo que de forma secundária, o perfil dos personagens. É uma tentativa de colocar alguma profundidade diante do caos, apesar dos estereótipos: temos a criança que se expõe ao perigo, o pai em busca de redenção, o machão que não tem medo de nada, a mulher submissa ao marido, o egoísta que só pensa nele e os adolescentes alienados.

Merece destaque a caracterização dos zumbis. Quando eles aparecem, a tensão toma conta, porque eles seguem o perfil visto em Extermínio e Madrugada dos Mortos e depois seguido à exaustão por outras produções, já que são fortes, correm desesperadamente e em alta velocidade e atacam ferozmente. Como comparativo, The Walking Dead é um ponto fora da curva, pois caracteriza os zumbis clássicos, que são lentos, mas igualmente mortíferos.

Voltando aos zumbis, após infectados, depois de alguns minutos, eles se contorcem, os vasos sanguíneos explodem e eles já estão prontos para o ataque. Ao se tornarem zumbis, os ex-humanos parecem ganharem poderes, mas o ponto fraco dos “monstros” é plausível e fundamental à trama. Destaque para as cenas de ação, onde o confronto é feroz e violento, mas nunca “gore”. Assim, a transformação dos humanos em zumbis convence, já que os efeitos especiais são muito bem produzidos.

Não dá para ignorar que em certas ocasiões, a ação dos zumbis lembra Guerra Mundial Z (2013), o que é compreensível para um filme que não se propõe a reinventar o subgênero, mas apenas fugir da mesmice de produções semelhantes. O ato final do filme nos dá a sensação de que Invasão Zumbi pode acabar a qualquer momento.

Só que não: ainda há situações para manter a angústia e tensão, ainda que seja previsível o que irá acontecer. 30 Dias de Noite (2007), que trata de vampiros que agem como os alucinados zumbis daqui, acaba sendo uma bela referência para o “the end”. Enfim, Invasão Zumbi é tenso, claustrofóbico e angustiante e ter estas sensações ao assistir o filme são fundamentais para oxigenar o subgênero.

* João Gabriel Pinheiro Chagas Freitas é jornalista e diretor do Jornal da Cidade. E-mail: joaogabrielpcf@gmail.com