Front 242

O jornalista Daniel Souza Luz escreve crônica sobre a banda belga Front 242

O futuro, nos estertores dos anos 1980, era o som do Front 242. Nada soava mais cyberpunk e eu nem sabia da existência dessa palavra. Era uma banda belga que se tornou referência do que parecia-nos vanguarda europeia da época, embora nem seja tão vanguardista quanto as bandas realmente industriais que existiam antes.

Na verdade, o Front é conhecido como o grande expoente da EBM (eletronic body music), ou seja, como o próprio nome indica, o som é mais eletrônico e menos baseado na pesquisa de instrumentos musicais não convencionais, feitos de sucata. O barulho que fecha uma das suas músicas relativamente populares à época, Masterhit, indicava o que Ministry e Nine Inch Nails fariam depois, mas de forma mais sintetizada, não soando vagamente analógico.

Aquele barulho disforme sugeria que o futuro seria desolador, perigoso e sombrio; em especial, se não se preparássemos a mente para lidar com alta tecnologia e o corpo para fugir de ameaças sutis. Um vídeo em especial, em que um anãozinho pilotava um mini-helicóptero que invadia um galpão onde estavam os integrantes, parecia um prenúncio sinistro.

Vimos no Som Pop, o ótimo programa de videoclipes apresentado por Kid Vinil, na TV Cultura. Em meados dos anos noventa estava sempre assistia ao Lado B da MTV com meu irmão e revimos esse vídeo. Ficamos tão decepcionados… Era farsesco. Cordas eram visíveis levantando os integrantes, que não pareciam tão desesperados quando vimos pela primeira vez. O helicóptero parecia um brinquedo malfeito.

Era cômico, mas não era engraçado. Front 242, então, já soava como passado embolorado. Estranho recordar disso tudo de novo em 2018. Vinil voltou a ser algo que caracteriza essa época. Drones genocidas na Ásia talvez prenunciem mini-helicópteros nos quais uma pessoa pode entrar na sua casa e te liquidar.

Hoje, o Front 242, por vias tortas, foi uma banda realmente popular no Brasil: foi usado como base musical pelo Bonde do Tigrão, há uma década e meia, na popularização do funk carioca. Era o som do futuro sim e ele já chegou; é desolador e perigoso, mas ensolarado.

* Daniel Souza Luz é jornalista e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com