Carta a nós, solteiros balzaquianos

Alessandra Rabelo escreve crônica sobre os relacionamentos em tempos atuais

A educadora física Alessandra Rabelo escreve crônica sobre a busca pelo amor e os relacionamentos em tempos atuais.

Somos jovens adultos que não precisam mais construir um patrimônio ou constituir o estereótipo tradicional de família  para ser aceitos pela sociedade – como foi o caso de nossos pais. Somos profissionais que fazem o que gostam, que pagam o aluguel, um bom livro, viagens, a conta do barzinho onde nos divertimos entre bons e queridos amigos, ouvindo o som “cool” do momento.

Falamos do amor na terceira pessoa. Há um ou outro casal de amigos onde sentimos haver um belo sentimento de entrega. Mas o fato é que 92% dos relacionamentos  sobrevivem apenas de ego e aparências. Então optamos pela solteirice, já não existe em nós aquela carência como a que havia na casa dos vinte anos.

Mais informados e equilibrados, conscientes do nosso amor próprio somos sim felizes! Saímos sozinhos, com os amigos, vamos para casa acompanhados sem nenhum comprometimento; vamos para casa sozinhos, tudo está ótimo! Não há tensão. Mas solteiros em tempos de 12 de junho se sentem confusos.

Dividem-se entre os que criticam, os que racionalizam e são descrentes no amor, os que sentem a solidão criar um exponencial infinito, os que encontram no humor um jeito tranquilo de lidar com o fato de se sentir só – sim! Há momentos em que sentimos falta de alguém do nosso lado . Há os que explicam o amor através da economia, da cultura, química, religião, esoterismo; e os que,  como eu,  decidem filosofar.

Esta época carece tanto de sentimentos quanto de razão. Vejo a encarnação de um tempo absurdamente hedonista,  e no outro extremo pela comodidade  e desinteresse. Que bom hoje entendermos mais sobre tudo e optarmos em viver em solitude a estar dentro de uma relação de posse, insegurança, ciúme, comodismo ou orgulho.

Estamos seguros e não queremos viver algo que implique parcialidade ou indigência. A questão é que inconscientemente estamos nos tornando seres emocionalmente “modernosos e débeis”, sentimos um estranho incômodo com situações de “mimimi”, excesso de atenção, rubor ou vozes agudas que os seres apaixonados insistem em fazer na nossa presença. O amor é sim uma busca. Não nascemos prontos para amar, mas estamos aqui para aprender.

Afinal, que mal há em tempos tão frios como o que vivemos em alguém hipervalorizar o objeto amado, sorrir ao lembrar de um rosto, sentir arrepios dentro de um abraço ou se emocionar com um olhar especial? Somos felizes sozinhos, não há dúvida; mas sinto que muitos de nós tem sentimentos dentro de si que estão transbordando e não nos damos conta disso. Somos humanos. Seres naturalmente doadores  e receptores de amor.

Falta amor Philos, falta sim amor Ágape, o medo se sobrepõe aos sentimentos que tentam nascer. Não podemos nos mostrar frágeis. Afinal já dizia Santo Agostinho: Tudo se esvai. Mas onde fica o “Que seja eterno enquanto dure” de Vinícius?  Todas as linhas filosóficas sobre o amor tem sua verdade, seu peso positivo. É preciso buscar o equilíbrio.

Rever nossos conceitos pessoais. E se o amor nos visitar: Que tenhamos coragem de abrir-lhe a porta, permitindo ver a beleza alojada no ser imperfeito. Que seja digno, grandioso enquanto durar, que em busca da segurança não cometamos o erro de nos desumanizar. Também somos filósofos de nosso tempo, Senhores de si, e sim! Livres. Livres para amar.

* Alessandra Rabelo é educadora física, pós-graduada em dança e consciência corporal e estudiosa de filosofia e meditação. E-mail: lizzieale2015@outlook.com