Em A 5ª Onda, invasão alienígena decepciona

A 5ª Onda é mais uma produção que proveita a temática da ficção distópica

Avaliação do Editor

6.0
Avaliações 6.0

O crítico Marcelo Leme apresenta suas impressões sobre o filme A 5ª Onda, mais uma produção que proveita a temática da ficção distópica.

São tempos de exploração de franquias baseadas em literatura adolescente e suga-las no cinema até não se poder mais. Na onda de tantas outras obras que deram certo e outras que morreram no primeiro filme, esse A 5ª Onda vem subaproveitar a ideia da ficção distópica tão em voga e criar uma ação a cerca de uma ameaça alienígena prestes a dizimar o planeta. Algumas fases marcam esse ataque que vislumbra uma ocupação terrestre.

Uma possível heroína desponta. Para isso, uma jovem atriz outrora em ascensão fora contratada para protagonizar a história e dividir um filme que não se entende como um romance e tampouco como um natural longa de ação. Tudo é vazio, estúpido e entediante. E Chloë Grace Moretz, apontada como uma promissora estrela há alguns anos, vem desenvolvendo vícios e se envolvendo em projetos risíveis a troco de exposição.

Chloë Grace Moretz faz o papel da protagonista
Chloë Grace Moretz faz o papel da protagonista

Filmes que dependem de narração em off geralmente são preguiçosos. Aqui, não há exatamente preguiça, mas incompetência. Perceba tal narração e sua finalidade que se perde repentinamente. A história cria um arco corriqueiro, iniciando de seu meio para logo após mostrar como se chegou até ali e finalmente como este será concluído. Nesse percurso, o uso da narração em off seria absolutamente descartável em mãos conscientes da função do cinema. E arriscaria até aproveitar um objeto cênico que tem valor burlesco para aproveitar a narração de uma maneira mais orgânica: o diário. Mas trata-se apenas de uma opção. Em meu ponto de vista, todas as feitas pelo diretor J Blakeson foram incoerentes.

A verdade é que A 5ª Onda é uma espécie de Crepúsculo piorado. Tal afirmação pode ser assustadora aos desavisados, mas ela não é um exagero. Crepúsculo ainda tinha uma razão de existir. A 5ª Onda não tem. Tem um triângulo amoroso pouco crível e uma coadjuvante que rouba as cenas, Ringer (Maika Monroe, do ótimo “Corrente do Mal”), ainda que de uma maneira mal aproveitada. Os diálogos ruins dão conta de tornar as coisas demasiadas explicadas, fazendo com que não seja prioritariamente uma obra juvenil, mas infantil. Nesse ponto, é inativa até mesmo quando usa de ganchos do roteiro para dar pistas sobre a fundamentação de seus personagens: em certo instante, por exemplo, o misterioso Evan Walker (Alex Roe) entrega sua função numa frase de impacto.

E se você não assistiu ao filme, recomendo que não leia a continuação desse parágrafo. Não à toa, Evan Walker, o personagem mais complexo do filme, parece ser explorado em detalhes, como o pôster de Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas em sua parede, salientando uma informação que ele faz questão de levantar: a percepção de sua humanidade. Ao menos isso justifica seu encantamento com o mundo que experimenta. E é o que faz dele o mais interessante a se acompanhar. Você pode seguir lendo a partir daqui. Contando com uma trilha sonora pavorosa e pouquíssimo original, a obra parece ter se rendido ao convencionalismo de produções enlatadas até no que se refere ao áudio.

É como se seu autor tivesse compilado trailers de filmes de ação ruins e reaproveitado suas trilhas, sempre similares e aborrecidas. Temos ouvido a mesma coisa há anos, com um aumento considerável na última década. Note também o recurso de colocar o som de helicópteros em cenas as quais estes não podem ser vistos, numa claríssima tentativa de criar iminência de perigo, uma vez que a direção ruim e seus atores infelizes não conseguem dar conta de criar tal clima. Invariável, o cinema que abrange esse gênero está definhando em seu esgotamento.

Chloë Grace Moretz, que ganhou fama como Hit-Girl e posteriormente protagonizou bons trabalhos como A Invenção de Hugo Cabret e Acima das Nuvens, além da versão hollywoodiana do sucesso sueco Deixa ela Entrar, vem se mostrando refém de adaptações duvidosas, como Se eu ficar e o remake de Carrie. Está com vícios os quais nem seu carisma é capaz de anular. Mal dirigida, a menina larga muito atrás perante as atuais heroínas de obras análogas, as protagonistas das franquias de Jogos Vorazes e Divergente. Orientação é tudo e menos é mais. É possível que apareçam sequências, e que estas não sejam essa marolinha.

* Marcelo Leme é psicólogo e crítico de cinema